Acreditar nos mitos sobre TDAH pode impedir que a pessoa receba o(s) tratamento(s) adequado(s). Mesmo que muito progresso e estudo tenham sido feitos, equívocos e erros acerca do TDAH ainda persistem.
“Pessoas com TDAH são preguiçosas, faltam força de vontade, são desleixados, descuidados”: Caso você ou seu filho tem TDAH, é possível que você também tenha internalizado essas crenças incorretas – e muitas outras. O problema nisso é que, ao acreditar que o TDAH é algo que não é pode impedir de procurar tratamento ou levar a recorrer a estratégias que não são eficazes. Internalizar as falas erradas sobre o TDAH também pode levar a pessoa a sentir vergonha de tudo, desde seus sintomas até sua identidade. Da mesma forma, internalizando esses erros, os pais de uma criança com TDAH podem sentir vergonha, culpa e confusão geral sobre como melhor apoiar seu filho.
Graças aos muitos estudos e pesquisas sobre TDAH, sabemos muito mais hoje sobre a condição do que sabíamos anos atrás. Mas ainda existem mitos e equívocos que permeiam o pensamento da sociedade:
1º Mito: Quem tira ótimas notas não tem como ter TDAH.
Fato: quando alguém com TDAH passa em um teste difícil ou tem uma carreira de alto nível, mas não consegue realizar o dever de casa ou recordar onde deixou as chaves ou se lembrar de pagar uma conta, você pode pensar que está relacionado à falta de esforço ou consciência. Entretanto, TDAH não tem nada a ver com inteligência. Em vez disso, o TDAH envolve problemas com o funcionamento executivo – habilidades cognitivas compostas por:
– Flexibilidade mental: a capacidade de desviar a atenção para uma tarefa diferente;
– Memória de trabalho: a capacidade de reter informações em nossas mentes por um breve período;
– Autocontrole: a capacidade de resistir a ações impulsivas, como deixar escapar respostas em sala de aula;
Essas habilidades cognitivas controlam uma variedade de comportamentos complexos, como: Prestar atenção, planejamento, gerenciamento de tempo, tomada de decisões e iniciar tarefas.
Em geral, atividades aparentemente simples, na verdade, requerem alguns processos cerebrais sofisticados, que não são tão fortes em pessoas com TDAH. Em outras palavras, é difícil pagar uma conta ou encontrar as chaves quando seu cérebro não tem essas informações à mão.
2º Mito: o TDAH não afeta tanto as meninas quanto os meninos.
Fato: Ao mesmo tempo, décadas atrás, os especialistas acreditavam que o TDAH afetava exclusivamente os meninos. Agora, no entanto, sabemos que isso não é verdade. Meninas (e mulheres) apresentam TDAH em números semelhantes ao dos meninos (e homens). E ainda assim, os meninos são mais propensos a serem encaminhados para avaliação e receberem um diagnóstico de TDAH. Por exemplo, uma pesquisa em larga escala de 2018 constatou que 12,9% dos meninos foram diagnosticados com TDAH em comparação com 5,6% das meninas.
Como a pesquisa sugere, um dos principais motivos é que o TDAH tende a parecer diferente em meninas e em meninos. Embora cada pessoa com TDAH seja diferente, no geral, as meninas são mais propensas a apresentar sintomas de desatenção do que a exibir comportamentos hiperativos ou impulsivos. E de acordo com um artigo especializado de 2020, em vez de pular nas paredes e ser perturbador, as meninas com TDAH podem: Sonharem acordadas, serem desorganizadas, sentirem-se sobrecarregadas, terem problemas com como ansiedade. Meninas com TDAH também podem desenvolver estratégias para esconder ou compensar seus sintomas difíceis.
De qualquer maneira, os sintomas frequentemente “mais quietos” das meninas têm maior probabilidade de passar despercebidos, especialmente quando professores e pais estão, compreensivelmente, ocupados lidando com comportamentos mais graves e indisciplinados. Porém, as meninas com TDAH igualmente enfrentam desafios. O mesmo artigo de 2020 cita vários estudos que descobriram que as meninas podem também acabar passando por:
– Assédio moral;
– Dificuldades de relacionamento com pais, irmãos e colegas;
– Baixa autoestima;
– Taxas elevadas de gravidez precoce ou não planejada;
– Comportamento de automutilação.
3º Mito: Se meu filho tiver que tomar remédios para TDAH, eu cometi algum erro.
Fato: Como o TDAH tende a ser uma condição invisível, nossa sociedade geralmente estigmatiza o uso de medicamentos. Portanto, é totalmente compreensível se você hesitar em relação à medicação ou vê-la como último recurso. Porém, não há motivos de se culpar por (supostamente) não fazer o suficiente. Para começar, para muitas crianças e adolescentes, a medicação é uma parte inestimável do tratamento (a outra parte crítica é a terapia e outras estratégias comportamentais personalizadas). Muitos profissionais sugerem olhar para a medicação como “comprar óculos para um filho com deficiência visual, um aparelho auditivo se um filho tem dificuldade de audição, insulina para diabetes etc.”.
O objetivo da medicação para TDAH é reduzir a hiperatividade, impulsividade e desatenção com pouco ou nenhum efeito colateral. Trabalhar com um profissional de saúde ou de saúde mental especializado em TDAH pode ajudar a encontrar o regime de tratamento certo para o paciente.
Claro, a medicação não é certa para todos. A chave é não comparar a situação de uma pessoa com a de qualquer outra – mesmo que essa outra seja da mesma família.
4º Mito: Pessoas com TDAH só precisam se esforçar mais
Fato: Dizer às pessoas com TDAH que elas precisam se esforçar mais para se concentrar, ficar quietas, ser mais organizadas ou superar algum outro sintoma é semelhante a dizer a alguém com deficiência visual para se esforçar para enxergar melhor. Claro, isso não é possível. Pessoas com baixa visão precisam do suporte de óculos ou lentes de contato (ou cirurgia). E da mesma forma, pessoas com TDAH também precisam de suporte.
A forma correta de ajudar é incentivando-os a:
– Identificar e aproveitar seus dons únicos;
– Estabelecer metas significativas (para eles).
– Separar os objetivos em uma série de pequenos passos estratégicos;
– Aumentar a motivação;
– Gerenciar o humor.
Resumindo, as pessoas com TDAH não precisam se esforçar mais – a solução é tentar, de forma diferente, honrar as tendências naturais e encontrar sistemas que funcionem especificamente para quem tem TDAH. A meta não é se tornar alguém sem TDAH. Em vez disso, procurar tratamento para ajudar a reduzir os sintomas, adotar estratégias favoráveis ao TDAH e capitalizar seus imensos pontos fortes são processos mais eficientes.
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editor2023-06-09T12:37:04+00:00Depressão, Destaque do momento, Novos destaques, Prioridade|